É muito elegante a maneira como a vossa majestade, o Sol, desce de seu trono, o Leão, em direção à Virgem, a veste noturna de Mercúrio.

É muito elegante a maneira como a vossa majestade, o Sol, desce de seu trono, o Leão, em direção à Virgem, a veste noturna de Mercúrio. Desta feita, o Sol encontra terra para arar, realidade para diagramar. Somos tomados por uma curiosidade analítica, ao mesmo tempo agitada e calma observação do que compõe o mundo em seus mínimos detalhes. Buscamos, assim, o perfeito espaço e tempo sobre o qual dançaremos lindos feito aquele que tem asas nos pés. Não tenho nem roupa pra fazer jus a tamanha graciosidade. O sentimento de desajuste também parece parte fundante. Virgem ama Áries porque nele encontra a canalização pra tudo aquilo que planejou. Virgem analisa melancolicamente, no temperamento frio e seco característicos da terra, mas por vezes põe fogo na vontade e produz. Incansável. Exaustiva. A perfeição é o mínimo apesar de ser também impossível. Signo duplo, mercurial, metade divina, metade reles mortal. Habita o caminho, o próprio fazer, e nesse movimento incessante produz as coisas mais incríveis que esses olhos aqui já puderam ver, que esses ouvidos daqui já puderam ouvir. Na imagem de Michael Jackson a Beyoncé. Na historiografia brasileira, o maior deles, Robert Slenes. Homenageado, ele sobe ao palco, seu discurso são os incontáveis orientandos e, detalhadamente, suas pesquisas em curso. Cena essa que relembrei ao ver Bong Joon-ho em seu discurso no Oscar, o prêmio decorrente de nada menos que Parasita, o filme, cá entre nós, mais incrível dos últimos anos. Ele pega a estatueta e se põe a falar dos que vieram antes, dos que não foram vencedores, dos trabalhadores que fizeram o plano ser possível. Há uma sensibilidade aguçada na Virgem que lhe faz compreender quase tudo. Há também um empenho em superar seus limites que é quase compulsivo, sintoma do seu desassossego interno que daqui de fora a gente quase não vê, só se olhar bem miudinha e detalhista desse jeito que eles nos vêem. Há, por fim, uma humildade sincera no seu proceder que torna tudo ainda mais encantador. O Sol saiu de seu trono, desceu pra andar feito gente, essa gente normal que de tão desejosa de perfeição, dobra a meta dessa experiência que é viver.

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