Às 2h07 da madrugada a Lua chegou ao centro do Sol pela penúltima vez este ano. Ao casamento entre Luminares chamamos Lua Nova, esse fenômeno que inaugura um novo mês celeste, a Lunação. Diametralmente oposta à Lunação do Touro, aquela onde a Lua apaixonada por si mesma gerou condições de amar além, a Lunação do Escorpião marca uma aliança onde a Lua se encontra em estado de exagerada humilhação. O Sol não piora a sua situação. Nem melhora. A questão da Lua é dela e somente dela e por extensão a nossa, os breves, pequenos, proletários e desvalidos. A sensação é como se na eleição anterior tivéssemos tomado uma coça do fascismo e como se hoje de novo tivesse eleição e nós ainda assim votássemos. A sensação de humilhação é livre e se estende a toda a classe trabalhadora. Mas a Lua, às 2h07, estava acidentalmente dignificada, em júbilo posto que na casa 3, a casa da rua, dos irmãos, do fluxo, da feira, da escola, das viagens por terra. Essa sorte ameniza as dificuldades da debilidade essencial, como no mapa de Marx que um Júpiter em queda se acolhe na casa 11, seu júbilo, gerando um mestre capaz de dedicar seu tempo contra a teoria e em favor da práxis. A Lua em queda e jubilada me sugere Mano Brown com uma mão na ferida e outra no microfone como quem se fragiliza pra se fortalecer, como uma criança ressabiada que cria coragem de dizer e dizendo encontra parceiros da dor e o simples sentimento de ser só mais uma amortece a queda, o abandono, o ódio e a tristeza. Às 2h07 eu assisti Entrevista com o Vampiro pela primeira vez. Podem julgar a vontade, eu o faço mais que todos. Se é verdade que a gente pode fazer um paralelo entre uma unidade de filme e uma unidade de mês, pode preparar a taça de sangue pra brindar. Histórias do arco da velha devem ganhar as antenas do rádio.
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Foto @cannellevanille