Segunda feira, dia da Lua que está em Capricórnio, signo de Saturno. Míngua velha e fria em busca do Sol que está em Aquário, signo de Saturno. Os Luminares, significadores da vida e suas maiores expressões, estão exilados, fora da zona de conforto, como se não houvesse caras, bocas e gestos possíveis pra nos conectar e nos construir na interação com os outros. O céu diz que é tempo de não existir. Na língua brasileira, é tempo de Carnaval, mas as máscaras que eu vejo na rua e que escondem a expressão de sóis e luas, não são da festa que a nossa gente mais gosta de fazer, aquela de não ser. São um outro jeito de dizer, como disse Lima Barreto, que “nós não somos nada nessa vida”. O Sol segue seu passo constante. Nos últimos dias submeteu ao Cazimi as nossas armas, as nossas crenças e a nossa fé. Hoje é a vez de Mercúrio, nossas palavras, atos, gestos e corpo. Cazimi de Mercúrio pra purificar nossos pensamentos às 10h48, mas preces e meditações são recebidas até as 14h10, horário de Brasília. Que as nossas palavras sejam inteligentes como Aquário e astutas como Mercúrio. Que nossa ação seja colocada em função da cidade e nunca o contrário.
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“Falaram que meu companheiro
Meu amigo surdo parece absurdo
Apanha por tudo
Ninguém canta samba
Sem ele apanhar
Não ouviram que seu companheiro
Amigo pandeiro
Também tira coco do mesmo coqueiro
Apanha sorrindo pra povo cantar
Pandeiro
Não é absurdo mas é o meu nome
Não me chamo surdo mas aguento fome
Pandeiro não come mas pode apanhar
Ao povo que vibra na força do som brasileiro
Não é só o surdo nem só o pandeiro
Tem uma família tocando legal
Você cantando, tocando e batendo na gente
Passando por tudo tão indiferente
Não conhece a dor do instrumental
Batuqueiro ê, batuqueiro
Cantando samba pode bater no pandeiro
Batuqueiro ê, batuqueiro
Cantando samba pode bater no pandeiro”
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Alcione, Pandeiro é o meu nome.
📸 JOE PENNEY & ABDOU OUOLOGUEM, Incarnation 1, 2014.