A Lua anda em seu domicílio, o aconchegante Caranguejo. De lá exalta Júpiter que de Peixes exalta a Vênus que de Gêmeos não exalta ninguém, mas admira Mercúrio que está na praça, os Gêmeos, seu domicílio diurno. As lembranças do tempo em que podíamos nos amar sob chuva suor e cerveja inundam nossos pensamentos. As histórias que a Lua busca em nossa memória tomam conta das nossas palavras e Mercúrio as repassa, conta de banco em banco, de esquina em esquina. De Aquário, Saturno também tronado e dono do dia reprova esse desperdício. Mas a essa altura, submersos em nostalgia, quem ainda se importaria?
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Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal, feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha falava de amor
pois nunca mais cantei, oh maninha
Depois que ele chegou
Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
Dos sonhos que você contou pra mim
Os passos no porão, lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim, oh maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou
Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinha
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Prá nunca mais voltar…