É estranho pensar num cazimi de Mercúrio em Gêmeos. Cazimi são como que sagrados.

É estranho pensar num cazimi de Mercúrio em Gêmeos. Cazimi são como que sagrados. Milagres passados sob os raios solares como se fossem lâminas de fogo. Gêmeos é avesso aos rituais, é uma roupa que não se usa em ocasiões religiosas. A não ser na festa de São Cosme e Damião ou na gira de Erê quando a divindade que se homenageia tem parte com a infância. Gêmeos só são Gêmeos quando crianças. Mercúrio nessa festa deita e rola. Mercúrio parece fraco porque pequeno e abaixo dos demais. Mas Mercúrio tem uma coisa engraçada, pra não dizer espetacular. Ele aguenta. Aguenta chumbo grosso. Aguenta viver num signo que lhe dá queda e exílio ao mesmo tempo, coisa que mais ninguém aguenta. Aguenta se submeter como uma transformação profunda a cada dois meses, o Cazimi. E antes e depois dele, a combustão. Mercúrio é uma criança que brinca com fogo e se mija na cama esconde bem porque a mamãe nem acha. E se a chinela voar também não o alcança porque ele tem asas nos pés. As vezes a desilusão toma conta do nosso peito de uma tal forma que parece nem haver espaço para religião. As vezes olhar para cima não responde, não oferece caminho, não sopra um alento. As vezes é preciso olhar pra baixo. Para onde estão os pequenos. Uma bela brincadeira, uma troca de sorrisos, um lambuzar de doce pode ser uma baita oração. Mercúrio já está Cazimi. Sorrateiramente no dia do eclipse pra ninguém perceber. Como em janeiro de 2020, eu nunca vou esquecer. Aquieta a tua mente e, se não puder, ao menos sorria, mas com intenção. Cazimi perfeito às 22h02. Momento perfeito pra pôr a cabeça no lugar.