Hoje é dia das bruxas, mas eu prefiro as curandeiras. Não por nacionalismo até porque eu acho que tem que acabar a nação. Acontece que a Lua míngua em signo de terra, Virgem, como uma mulher velha e seca que domina a arte de dar nó em pingo d’água porque herdou as ferramentas de Mercúrio, aquele que faz o que as leis de Zeus não deixa. Mercúrio, hoje, está no signo de Vênus, a Deusa dos lenitivos que, por sua vez, está conjunta a Ras Alhague, a estrela que troca beijos com as serpentes e do seu veneno extrai soros e vacinas. Eu não sou a neta das bruxas que eles não conseguiram queimar. A minha vó é católica e como a minha bisavó, é benzedeira e curandeira. A magia do lado sul do globo é poderosíssima e por isso mesmo foi penalizada com armas até mais letais do que a fogueira: o racismo, o silenciamento, o sal sobre a terra arrasada. Hoje é dia das bruxas segundo a cultura colonizadora. Daqui dois dias é o dia de Los Muertos tão lindamente cultivado pelos mexicanos. São as tradições que afloram no tempo em que o Sol passa pelo Escorpião, o signo das armas, das entranhas, dos feitiços e das curas. Festas de maléficos: Marte, Saturno e Mercúrio que a eles se alinha durante esses tempos. Daqui a pouco vem a Saturnália e no ano que vem, se Zeus quiser e Mercúrio permitir, o maior de todos: o Carnaval.
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Um beijo com gosto de doce de abóbora com coco e canela em tacho de cobre e forno a lenha da minha vó no interior de Minas Gerais em cada um de vocês.