No instante em que escrevo a Lua está a 16 graus de Leão, ponto do céu onde se encontrava Júpiter, o Deus da Justiça, no instante do nascimento da Marielle Franco em 1979. Ao longo do dia, a Lua visitou o seu Sol Natal, de coração enorme e também seu Mercúrio de nascimento, de fala felina e nítida como a luz do dia. Mercúrio esse que ela tem aos 11 graus de Leão, alinhado a Acubens, a pata do Caranguejo, aquele que conta no céu a história dos desvalidos e miseráveis, a luta pela justiça e a defesa da memória. Mercúrio Acubens, aquele que põe a cara no Sol e quando o faz leva consigo todos que fizeram a sua caminhada ser possível. Mercúrio que honra os seus ancestrais, os reverencia, os carrega até o ponto mais alto a fim de serem reconhecidos. Mercúrio de quem tem o holofote em mãos e com generoso gesto direciona a sua luz, seu próprio amplificador, para fazer ecoar alto a voz daqueles por tantos séculos ignorados. Acubens, esse ponto do céu pelo qual passava o nodo norte quatro anos atrás. Os nodos indicam eclipses, dias que, repentinamente, se tornam noites. Um ponto de inflexão profunda. Há quatro anos o mundo virou do avesso porque de cabeça pra baixo já estava. Virou de um jeito que faz a gente se questionar: não tem nem por onde começar. Quando foi que a sua história se fundiu com a do mundo? Faz muitos meses e eu sigo não sabendo de nada. Esse céu que todo dia 14 de março nos leva até você, hoje me levou a Acubens, estrela que eu nunca havia notado em seu mapa. Me levou a essa resistência brutal da pinça do Caranguejo a esmigalhar o calcanhar dos gigantes. Me levou ao “eu sou porque nós somos”. E, já que o tempo é incontornável, Acubens me levou ao compromisso de todas nós, “nós que somos porque você é”, de nunca mais abaixar a cabeça, de nunca mais nos acovardar, de nunca permitir que eles façam os mais novos te esquecer e, sob Júpiter em Peixes, jamais desistir de lutar por justiça, dignidade e respeito.