A Lua em seu primeiro quarto crescente é chamada Sanguínea, tem temperamento quente e úmido. É diplomática, difusa, alegre, expansiva e movimentada como o ar. Já o Caranguejo é signo que se diz fleumático, frio e úmido, se adequa, se achega, se engloba feito água. Entre a fase e o signo se mantém a característica úmida que marca o corpo lunar por esses dias. A umidade é traço que designa suscetibilidade, a capacidade de perceber e experimentar estímulos e adquirir determinadas qualidades. A Lua está em seu domicílio, o Caranguejo, signo que não vê ninguém e assim tateia muito melhor. Estamos sensíveis e plenos porque é de setenta por cento água que somos feitos mais outra massa qualquer de ar que nos preenche todo instante. Úmidos. E mesmo que alguns almejassem ter os nervos de aço que Paulinho da Viola canta, inevitavelmente há sempre de se lembrar do Gilberto Gil a constatar que o cérebro eletrônico faz tudo, quase tudo, mas que só eu posso chorar quando estou triste porque eu sou vivo, sou muito vivo e sei que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro com seus botões de ferro e seus olhos de vidro. E, assim, sigo a minha defesa do Caranguejo como signo feminino ao qual chamam trouxa porque, aparentemente, a trouxisse é definida por ser humano. No meio de militância, ouvi uma vez que não se devia mandar os homens para a cozinha como punição ou obrigação, mas sim, levar a reunião do coletivo para lá, tomar as decisões importantes descascando o não menos decisivo alho. É óbvio e maravilhoso. Somos gente. Dos animais, talvez os mais frágeis. Dependemos de comer todos os dias, várias vezes ao dia. Habitamos essencialmente a cozinha. Essa esfera não é castigo. É o mínimo. Assim como o Caranguejo. Aconchego, afago, amor, carinho e nutrição. Maravilhoso, humano e necessário como o choro que lava a nossa alma. O que é não ser trouxa, afinal? É almejar tornar-se máquina de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração? Homem não chora, eles dizem. Assim se vão em eterna contenção, frustração, masculinidade tóxica, toupeiras emocionais. Eu sigo orgulhosa da água que me compõe, de tudo isso que é humano e eles atribuem ao feminino, do amor às lágrimas.
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