A Lua ascendente agora, 14h41, no horizonte de Brasília. Lua crescente e seca em Capricórnio.

A Lua ascendente agora, 14h41, no horizonte de Brasília. Lua crescente e seca em Capricórnio. Lua que conserva as suas poucas economias. Lua enamorada de Saturno, um velho alto e magro. Lua que canta o tempo, suas dores e seus ensinamentos. Lua em exílio pedindo silêncio para não desperdiçar as suas valiosas horas. Lua que se distancia do trígono com o Sol em Virgem, a quem agradece pela meticulosa leitura do seu último texto. Meia noite e meia a Lua vai de Graciliano Ramos para Maria Bethania. Ali reconhecerá o trígono entre Marte e Mercúrio. Marte no signo de Mercúrio. Mercúrio que também sempre anda acompanhado. Hoje coragem, amanhã companhia. Hoje e amanhã sob o signo de Saturno e de Mercúrio, aqueles que destinam pessoas de letras, pessoas de livros, pessoas de ventas, pessoas de ventos.

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Onde vai, valente?

Você secou

Seus olhos insones secaram

Não veem brotar a relva que cresce livre e verde

Longe da tua cegueira

Seus ouvidos se fecharam a qualquer música

A qualquer som

Nem o bem, nem o mal

Pensam em ti

Ninguém te escolhe

Você pisa na terra, mas não a sente

Apenas pisa

Apenas vaga sobre o planeta

E já nem ouve as teclas do teu piano

Você está tão mirrado

Que nem o diabo te ambiciona

Não tem alma

Você é o oco, do oco, do oco

Do sem fim do mundo

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O que é teu já ‘tá guardado

Não sou eu que vou lhe dar

Não sou eu que vou lhe dar

Não sou eu que vou lhe dar

O que é teu já ‘tá guardado

Não sou eu que vou lhe dar

Não sou eu que vou lhe dar

Não sou eu

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Eu posso engolir você

Só pra cuspir depois

Minha fome é matéria que você não alcança

Desde o leite do peito de minha mãe

Até o sem fim dos versos, versos, versos

Que brotam no poeta em toda poesia

Sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi

Se choro, quando choro, e minha lágrima cai

É pra regar o capim que alimenta a vida

Chorando eu refaço as nascentes que você secou

Se desejo

O meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio

Vivo de cara pra o vento na chuva

E quero me molhar

O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito

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Sou como a haste fina

Que qualquer brisa verga

Mas nenhuma espada corta

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Não mexe comigo

Que eu não ando só

Que eu não ando só

Eu não ando só