A Lua está em Aquário, a única possível pra esse bicentenário.

A Lua está em Aquário, a única possível pra esse bicentenário. Lua no ponto mais distante possível do coração do rei, vossa majestade, o Leão. Uma vala, um calabouço pra derrubar esse pedaço pútrido de carne humana embebido em formol e em incontaveis litros de sangue negro, indígena e feminino. Desprezo e esquecimento, a Lua avalia, é o que deveria lhe sobrar.

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A nossa bandeira nunca será vermelha, é o que eles dizem. A nossa nunca será aquela verde e amarela de 1889. Essa pátria criada sob o signo da exclusão, da violência, do racismo, da misoginia e da exploração. E como a arte quase sempre precede as atitudes políticas, ficamos hoje com a verde e rosa da Estação Primeira de Mangueira sob a qual centenas de excluídos cantaram a “história que a história não conta”. Desfile épico da madrugada de 5 de março de 2019 sob a luz dessa mesma Lua do dia de hoje: rebelde e necessária, Aquário.

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“Brasil, meu dengo

A Mangueira chegou

Com versos que o livro apagou

Desde 1500

Tem mais invasão do que descobrimento

Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado

Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato”…