A Lua vai em Capricórnio estrada de chão adentro, melancólica por fase e por signo.

A Lua vai em Capricórnio estrada de chão adentro, melancólica por fase e por signo. Dali começa a avistar o Sol em seu carro de boi, o último grau de Touro. O trígono entre os luminares acontece só de madrugada, até lá a Lua ainda encontra Vênus e Marte, se afeiçoa, se acidenta. Ela está no exílio das emoções. Território árido, terra seca no cerrado, terra gélida do sul. Ele, por sua vez, se demora um pouco mais em território de abundantes sensações. O dia é uma terra batida, um caruru, repente ao som triste de uma viola caipira.

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Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino

De longe eu avistava a figura de um menino

Que corria, abria a porteira e depois vinha me pedindo

Toque o berrante seu moço

Que é pra eu ficar ouvindo

 

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando

Eu jogava uma moeda e ele saía pulando

Obrigado boiadeiro

Que Deus vá lhe acompanhando

Pra aquele sertão à fora, meu berrante ia tocando

 

Nos caminhos desta vida muito espinho eu encontrei

Mas nenhum calou mais fundo

Do que isso que eu passei

Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei

Vendo a porteira fechada o menino eu não avistei

 

Apiei do meu cavalo num ranchinho beira chão

Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão

Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão

Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração

 

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem

Quando eu passo na porteira até vejo a sua imagem

O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem

Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem

 

A cruzinha do estradão do pensamento não sai

Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais

Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás

Neste pedaço de chão, berrante eu não toco mais