A vida é assim. Uma vai, o outro chega. Um chega e o outro vai.

A vida é assim. Uma vai, o outro chega. Um chega e o outro vai. Foi o que a minha vó me disse aos prantos na última Lua em Peixes, a que levou seu irmão, meu tio-avô, pra viver do lado de lá. As despedidas às vezes são tão dolorosas que fazem parecer que a vida não tem sentido algum e que a obra divina é uma loucura. Mas o taurino que lhes fita os olhos com tanto carinho nessa foto acima não acreditava nisso. E na verdade era só nisso que ele não acreditava. De resto ele acreditava em tudo. Acreditava que em tudo havia um sentido. Acreditava em Deus, nos Orixás, nas rezas, na terapia quântica, nas ervas e até no sal rosa do Himalaia. Mas ele acreditava, sobretudo, no amor e na sua replicação, no seu armazenamento de garrafas, tonéis e contêirenes e na sua livre distribuição. Foi assim que ele me falou na última vez em que nos vimos. E falou como era de seu costume mais com os olhos do que com a boca. Mais com o próprio exemplo do que com as palavras. Deve ser assim que se deve criar os novos que estão chegando. Com o gesto mais do que com o sermão, mais com o sim do que com o não, mais com a abundância do que com a restrição. Tio Paulo foi e será eternamente um grande pai, um grande provedor, da comida ao afeto. Um grande apaixonado pela vida e os seus mistérios. Me esforço as palavras na esperança de fazer um pouco bonito ainda que palavra alguma dê conta do mar inteiro que cabe nesses seus olhos.

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Te amo muito e pra sempre, Tio Paulo Roberto Sarti.