Acordei comovida com um texto que uma amiga escreveu sobre o Cemitério São Luiz, o cemitério com o maior número de jovens sepultados da América Latina. Cemitério que abriga os mortos da região que no fim da década de 1990 era a região mais violenta do mundo. Ela saudava o fato de que hoje vai celebrar seu aniversário em assembleia na escola pública em que trabalha aonde os alunos vao decidir o cotidiano que querem ter. Ali. Nessa mesma zona sul da cidade de São Paulo. Ela não disse, mas eu sei, que seu coração se alegra não só pela sorte, mas pela conquista. Viver na América Latina é ter de lutar até para lutar. Não se escolhe ser ativista. Se é empurrado todos os dias a isso e mesmo assim, pra fazer fluir e canalizar toda a dor em transformação é preciso enfrentar uma batalha cotidiana consigo, com o sistema, com os outros. O Sol encontra seu exílio em Aquário. O ego, o eu. Exilado. Dessa ausência surge um espaço. Um vazio do tamanho do Sol. Nesse espaço ha a chance de nascer a mais linda história de amizade e cooperação. A rede pública de ensino. O Sistema Único de Saúde. Hoje fazem aniversário duas grandes amigas: Helena e Gabriela. Cada uma delas com trajetórias importantes ligadas à cada um desses serviços públicos. Coragem. Persistência. Dedicação. Foi de uma delas que eu ouvi aos 15 anos de idade, que quem tem amigo tem tudo. Foi com a outra que eu dividi uma das batalhas mais difíceis e dolorosas da vida que foi conduzir minha ex namorada até o fim de sua passagem pelo mundo. Com as duas divido cada um de meus ombros. Sinto amparo. Cuidado. Me sinto honrada. Sinto amizade. Além do Sol em Aquário, o dia flui com a Lua no Caranguejo. Aquela de onde verte o milagre da vida, da água e do acolhimento até no mais árido chão.
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A sorte do dia é de quem tem amigas de verdade
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