Escrevo essas linhas porque, do ponto de vista da astrologia que eu busco praticar, tão importante quanto as previsões astrológicas são as compreensões dos eventos passados à luz do céu. Ontem às 16, horário de Buenos Aires, o Senado argentino iniciou o debate que levaria, 12 horas depois, à legalização do aborto na Argentina. Ascendia no horizonte da cidade o signo de Touro, domiciliando a Vênus e exaltando a Lua, as duas deusas do céu. A Lua, naquele instante, se aproximava do auge de sua cheia, domiciliada posto que no Caranguejo e jubilada já que na terceira casa a partir do ascendente. Extremamente influente sobre as nossas vidas, portanto. Nas horas que se seguiram, a Lua nasceu no horizonte da cidade transladando a luz da Vênus, as mulheres, para o Sol, o governo, recado dado de papel passado às 00h35 da madrugada última. A Lua Cheia que, eu disse ontem, *desafiava* o Sol pois a ele se opunha dentro de uma Lunação de Sagitário em que ela mesma eclipsara o astro rei. Na plenitude de suas funções, a mulher dos céus encarou de frente o governo do Sol, a ordem Capricorniana que há muito lhe oferece exílio e respondeu: esse corpo é meu. A sua peleja durou a noite inteira e só terminou quando ela pôde confiar à Vênus a face do lado de cá do globo. Às 4h da manhã do dia 30, antes mesmo do Sol nascer, a Vênus oriental, Estrela D’Alva sob o signo de Sagitário, a lei, declarou com sotaque estrangeiro: es ley. Não foi a queda, não foi o exílio. A Lua que significa a libertação dos úteros argentinos é uma mãe na plenitude de suas funções. Exausta, depois de um dia intenso revisitando as tragédias vividas pelas mulheres da minha família, eu olho pro céu em busca de acalanto pra dor sem fim que é ser mulher na América Latina. A Lua no signo da água de força cardinal e aguda, cheia de dignidade e auto determinação nos abraça de volta: toda maternidade merece ser desejada.