Hoje é segunda feira, dia da Lua que cresce aos 11 graus dos Gêmeos. No instante em que eu escrevo o Sol nasce no horizonte da minha cidade como o fazia no momento em que se iniciou a última Lunação. A Lua, dona do dia, é dita sanguínea porque transita pelo primeiro quarto crescente, mas também porque esta é característica dos Gêmeos, signo de ar que lhe oferece a veste desde ontem. Lua no terceiro signo a partir do Sol. Na casa 3 da Lunação, seu júbilo, situação de extrema felicidade onde tudo é fluido, impermanente, transitório como o vento que se choca com os prédios aqui dos fundos e trazem pela janela da cozinha adentro o café da manhã, o alho da tarde, o odor ácido do caminhão de lixo da noite. Pessoas e dias sanguíneos são assim. Invadem com jeitinho. Batem na porta, mas se você não abre ele entra mesmo assim. O olfato é dos sentidos o que mais se parece com a Lua porque a correspondência entre seu estímulo e a sensação não passa por uma racionalização tão complexa e longa quanto a visão ou a audição. A Lua é o humor, o que sentimos quando bate um cheiro que entra pela janela da cozinha. Na sucessão divertida de ideias a Deusa erra pelos Gêmeos inventando um item pra buscar no mercado e poder justificar o xeretamento da vizinhança. De lá, ela responde a Mercúrio, o regente dos Gêmeos, que segue censurado por Júpiter que segue oprimido por Saturno, que espera Marte em seu signo diurno. Há hierarquia no céu. Com o diz João, é Saturno quem faz o calendário, como diz a vó, a gente faz um plano e Deus faz outro. A qualificação do doutorado, a viagem para o interior, as metas do ano novo, o campeonato brasileiro, as olimpíadas, a reforma da previdência, a fábrica, o lucro e de repente tanto faz já que amanhã podemos nem mais existir. Tudo na vida se dá um jeito, só num tem jeito é pra morte, pra citar outra da vó que aniversariou essa semana e segue linda, isolada, sozinha, aceitando as duras regras de Saturno por amor à vida. Lua forte assim traz memórias, vontade de visitar origem. Sentimos saudades como se a Lua já estivesse em Câncer. Saturno nem liga, incontornável é sua dureza. Os limites que impõe no fim é pra conservar a própria vida.
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