O eclipse solar ocorrerá às 15h49, horário de Brasília. Feito cena de teatro popular, feito tragédia de literatura de cordel, o rei cai desfalecido. Rei morto, rei posto. As cortinas vermelhas rapidamente se fecham, o mundo está enfim desgovernado. Os impactos de um eclipse dessa magnitude e dramaticidade vão desde os problemas no avião do presidente até o abalo das nossas certezas mais profundas. Dias difíceis para tudo aquilo representado pelo Sol a começar pelos prefeitos em exercício, autoridades máximas das cidades, o que deve gerar reviravoltas nas corridas eleitorais. Decisões importantes são fortemente desaconselhadas. Revisões profundas sobre certezas cristalizadas, por sua vez, devem ser meditadas com atenção e cuidado. A Lua se dirige a Mercúrio, dele a Marte e de Marte a Saturno, por antiscia. Marte na 10 do Sol recebendo aspecto da Lua logo após o eclipse é a cena que se sucede à reabertura das cortinas: um golpe. Sol em Libra e Marte em Câncer como naquele 2 de outubro de 32 anos atrás quando do ato supremo da covardia estatal, a chacina do Carandiru. O casarão caiu, mas o sofrimento continua, mais um novo relatório do mecanismo de combate a tortura, o Brasil vive uma guerra contra sua própria gente, um derramamento de sangue que faria Marte tremer de vergonha.
