No minuto em que escrevo a terra se encontra entre o Sol e a Lua filtrando a sua luz que a atinge em uma só cor: o vermelho.

No minuto em que escrevo a terra se encontra entre o Sol e a Lua filtrando a sua luz que a atinge em uma só cor: o vermelho. Aos 25 graus de Escorpião, a Lua sofre um sofrimento profundo, uma dor aguda. Os raios solares lhe percorrem como inúmeras agulhas a lhe perfurarem a pele, a carne e os ossos. Do seu útero emanam pontadas estridentes cujo fino ruído parecem estourar os seus tímpanos. O Sol luta contra a Lua com a mesma força em que a razão tenta domar a alucinação que, vez em outra, nos arrebata em suor delírio. A Lua, cheia, no meio do céu daqui do vale dos esquecidos, ferida e exposta, partilha com os desgraçados suas histórias doídas, doidas, varridas. Atônitos com o espelho que a deusa ensanguentada os revela, os mortais se compadecem e, como ela, se enternecem, não sem antes inundar o cerrado de lágrimas e lástimas. O Sol, então, como é mesmo próprio de qualquer relação, é atingido pelos lamúrios refletidos nas águas acobreadas que a deusa escorre olhos, peitos, veias e pernas afora feito rio enlamaçado a desaguar no mar. Quanto de dor nos é permitido visualizar? Se eu tivesse que apostar, responderia que uma parte ínfima de toda aquela que podemos suportar. Uma dose de vontade é necessária. Duas de coragem. Três de verdade. Quatro de auto maternar. Não invente ritual. O eclipse é forte por si só e, nós, pequenos o suficiente. Deixe as águas trazerem o que for necessário à superfície. Olhe apenas o suficiente, se desapegue em água corrente e volte a se cuidar naturalmente.

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Foto @camilacomumlso