Todo ano eu faço aniversário no dia 26 de junho. Todo ano. E todo ano o meu aniversário cai no mesmo dia que o do Gilberto Gil. Coincidência, dizem uns, calendário dizem muitos, astrologia dizem outros. Eu sempre soube, mas de uns anos pra cá eu paro pra reparar nessa coincidência do destino, nessa vírgula, nesse nó, esse detalhe que é aniversariar com o Gil nesse baião de São João. Esse reparar nada mais é do que um parar, um olhar, um dedicar, um abrir um espaço de tempo e nele se demorar. E por mais simples que seja, esse gesto contém magia como bem observou Hilda Hilst, aquela taurina: se a gente olha tudo de maneira lenta, tudo é sagrado. Eu sempre fiz aniversário no dia 26 e, desde que eu existo, esse é o mesmo dia em que existiu Gilberto Gil. O ato de reparar, de uns anos pra cá, o compasso do tempo, a marcação dos ciclos e os acasos do destino que neles desfilam não muda esse fato, não interfere nesse destino, mas o reconhecimento dessa sorte que me acompanha incide luz sobre a minha caminhada e aviva a minha alma. Sob o Sol significado por minha minha mãe que me deu a luz há exatos 34 anos, celebro as luzes do ascendente que sigo trilhando. A sensação é de estar mais viva do que nunca, mais acordada, sóbria e determinada. A sensação é dourada, solar e acompanha um novo talento, um prazer recém descoberto: dirigir um carro como o de Apolo, decidir a rota, organizar a rotina, optar pela saúde e ter como certezas apenas o ventre de onde nasci, o chão que eu piso e o tempo como tambor de todos os ritmos.