Vossa Majestade, o Sol, é tão perfeito que quando cai, cai bonito, cai elegante, cai no signo mais lindo do zodíaco, a Libra.

Vossa Majestade, o Sol, é tão perfeito que quando cai, cai bonito, cai elegante, cai no signo mais lindo do zodíaco, a Libra. E ali caindo não chega ao chão. Pisa com a ponta dos dedos no meio fio e balança. De um lado o prato de Vênus. Do outro, o de Saturno. De um lado simples e suave coisa. Do outro, suave coisa nenhuma. Concentrado em se manter de cabeça erguida, o Sol vê suas certezas se esvairem. Aflito, se dá conta de que tudo depende e de que, mesmo ele, não existe sem o Outro, de que só é capaz de se tornar alguém, aquele que se sujeita a estar em relação. Mediar com a vontade alheia pode ser perigoso pra um planeta que se exalta em signo de Marte, mas tudo tem seu tempo e agora é hora de viver do avesso. O controle e a constância parecem cada instante mais ilusórios. Arrefecido o calor de suas vontades e paixões, o Sol encontra espaço para ver o que há de belo ao redor e se torna capaz de se relacionar, de amar, de se dedicar ao outro. E nesse interesse genuíno se revela absolutamente sedutor. Nem tudo é facultativo, mesmo o doador da vida está submetido ao tempo. A auto determinação se mostra uma quimera, a desilusão dá espaço para aceitação do destino ao qual todos estamos submetidos. E não lhe restando outra alternativa a não ser aceitar as regras de Saturno, da vida e da morte, o Sol faz Vênus, música, dança e poesia. Quem o vê sorrindo, pensa que está alegre, canta Cartola que como o Sol de hoje Balança.

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Caía a tarde feito um viaduto

E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos

A lua, tal qual a dona de um bordel

Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel

 

E nuvens lá no mata-borrão do céu

Chupavam manchas torturadas

Que sufoco

Louco

O bêbado com chapéu-coco

Fazia irreverências mil

Pra noite do Brasil

Meu Brasil

 

Que sonha com a volta do irmão do Henfil

Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete

Chora

A nossa Pátria mãe gentil

Choram Marias e Clarisses

No solo do Brasil

 

Mas sei que uma dor assim pungente

Não há de ser inutilmente

A esperança

Dança na corda bamba de sombrinha

E em cada passo dessa linha

Pode se machucar

 

Azar

A esperança equilibrista

Sabe que o show de todo artista

Tem que continuar